O diagnóstico da doença hemorroidária é baseado na história clínica detalhada, combinada com exame físico do paciente e, principalmente, o proctológico cuidadoso que poderão confirmar a presença da enfermidade ou afastar outras condições que podem causar os mesmos sintomas. É freqüente observarmos pacientes que apresentam queixas relacionadas com o intestino distal e com o ânus admitirem, erroneamente, que seus sintomas são devidos às hemorróidas.
O exame proctológico deverá incluir uma inspeção detalhada e cuidadosa da região anal e perianal quando poderão ser diagnosticadas, com relativa facilidade, as hemorróidas externas, internas prolapsadas (às vezes, com mucosa ulcerada e recoberta por tecido escamoso metaplásico), e a trombose hemorroidária com ou sem flebite, as fístulas, assim como afastar, ou mesmo suspeitar das entidades que relacionamos como necessárias a serem consideradas no diagnóstico diferencial.
Diagnóstico diferencial da doença hemorroidária:
• Neoplasia retal (adenocarcinoma o mais freqüente)
• Neoplasia de canal anal (principalmente o carcinoma epidermóide e o melanoma)
• Condiloma acuminado perianal
• Pólipo retal (pode sangrar e/ou prolapsar)
• Papila anal hipertrófica (sangramento, prolapso, desconforto anal)
• Prolapso retal (desconforto local, prurido, sangramento e o prolapso)
• Fístula anorretal (desconforto local, secreção e prurido)
• Fissura anal aguda ou crônica (dor e sangramento)
O exame digital vem a seguir e, nos casos de lesões dolorosas, o mesmo deverá ser evitado (por exemplo, na vigência de fissura anal ou de trombose hemorroidária aguda com flebite).
O exame digital é importante, pois fornece informações a respeito do tônus esfincteriano de repouso e de contração, além de afastar a possibilidade de qualquer lesão tumoral ou de estenoses. É importante ressaltar que hemorróidas internas assintomáticas não são diagnosticadas pelo toque retal, pois a mucosa anal tem a consistência aveludada.
Hemorróidas externas podem ser identificadas à inspeção. Hemorróidas internas são adequadamente visualizadas durante a anuscopia.
Todos os pacientes com idade acima de 40 anos, apresentando-se com sangramento retal, devem ser submetidos a uma sigmoidoscopia flexível ou colonoscopia, para afastar a possibilidade da presença de tumores colorretais benignos ou malignos, de doença inflamatória intestinal e de doença diverticular.
A doença orificial (hemorróida, fissura anal, fístula anal, abscesso anorretal e condiloma anal) pode coexistir com lesões neoplásicas benignas e malignas em até 9,8% das vezes.
A decisão de se realizar a colonoscopia deve ser baseada na idade do paciente, presença de sintomas gastrintestinais e outros fatores de risco (história familiar como exemplo).
A colonoscopia em indivíduos com idade inferior a 40 anos e com sangramento retal pode ser justificada, uma vez que achados endoscópicos significativos podem estar presentes em até 21% dos pacientes18(B). Indivíduos portadores de doença hemorroidária, com idade acima de 60 anos, com queixas de sangramento retal, devem ser melhor investigados quanto à origem do sangramento; entretanto, a ausência de sangramento retal não pode ser considerada como um fator preditivo para a inexistência de câncer.
Comparando-se a retossigmoidoscopia flexível, associada ao enema opaco, com a colonoscopia, observou-se melhores resultados com este último método (os dois primeiros deixaram de detectar pólipo benigno maior ou igual a 1 cm e aqueles menores que 1 cm em 36% e 60,25%, respectivamente).
A prevalência de câncer colorretal em indivíduos com sintomas colônicos, porém sem evidência de sangramento retal, é baixa e pode ser comparável à prevalência na população assintomática.